terça-feira, 2 de setembro de 2014

Dormir Com os Pais: A Perspetiva de Daniel Sampaio

 
Há instantes li um artigo no Jornal Público, escrito pelo Dr. Daniel Sampaio (psiquiatra e terapeuta familiar) que aborda uma questão bastante pertinente: deverão os filhos dormir com os pais?

"Existe hoje alguma controvérsia sobre se os filhos devem dormir na cama dos pais, pelo menos durante os primeiros meses de vida. Podemos afirmar que existem vários tipos de “parentalidade noturna”: alguns progenitores são rigorosos em proibir uma noite inteira na sua cama, outros transformam-na numa verdadeira “cama familiar”, em que uma ou duas crianças se acomodam, às vezes com manifesta falta de espaço, no leito conjugal.
Os meus pais eram muito coerentes na sua educação. À hora de deitar, eu ia dormir sozinho, sem grandes protestos. Embora não me recorde, como é óbvio, dos meus tempos de bebé, as estórias que me contavam eram de uma ida precoce para a minha cama; e se acordava de noite, a minha mãe ou a minha avó iam lá sossegar-me os medos, sem que tivessem de perturbar o seu descanso por muito tempo.
Hoje nem todos pensam como os meus familiares. Os pais trabalham muito e alguns reivindicam para si mesmos uma noite sem interrupções, defendendo o seu direito ao descanso. A solução passa então por aceitar que os filhos os acompanhem durante longos períodos ou mesmo toda a noite, de modo a que não haja qualquer período de insónia.
Alguns pediatras e psicólogos vieram em sua defesa, alegando que a proximidade entre pais e filhos facilita a intimidade recíproca, acalma as crianças e permite uma tranquilidade que favorece o desenvolvimento físico e mental. 
(...) Os meus argumentos contra esta situação de co-sleeping (dormir em conjunto) são outros. Considero que o desígnio fundamental da educação é o da autonomia, esse percurso singular que leva cada um a ser capaz de gerir a sua própria norma, ou seja, ter uma existência independente e confiante. Uma criança pequena não pode viver sozinha, mas pode construir o seu caminho para ser capaz de o fazer mais tarde. Assim, dormir sozinho faz parte desse percurso a percorrer. Até aos seis meses, a criança deve dormir num berço junto à cama dos pais, depois (no máximo com um ano) deverá ter o seu quarto e a sua cama, sempre que as condições da casa o permitam.
A investigação abre caminho a outras compreensões deste problema do co-sleeping. Diversos estudos demonstram que as crianças que permanecem muito tempo na cama dos pais exibem curiosidade excessiva sobre a intimidade dos progenitores. Por outro lado, alguns pais tornam-se demasiado permissivos (em muitos contextos), porque não são capazes de confrontar os filhos com um “não” durante a noite, ou então acabam por mostrar sentimentos de culpa, por darem demasiada importância às suas próprias necessidades de repouso e bem-estar.
A regra deverá ser: afeto antes de dormir, sossego depois, em camas separadas."

Artigo adaptado, no entanto poderão encontrar o original no site do Jornal Público.

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